Maslow para Enxadristas (e para você)

Pirâmide de Necessidades de Maslow (wikipédia)

Em 1943 um psicólogo chamado Abraham Maslow criou uma teoria na qual elencava uma hierarquia de necessidades e desejos humanos com cinco níveis que, se alcançados, trariam realização pessoal e até mesmo felicidade. Este modelo ficou conhecido como Hierarquia (ou Pirâmide) das Necessidades de Maslow.

Nessa teoria, o primeiro nível é aquele composto de itens fundamentais à vida como alimentação, acesso à abrigo, sono etc. No nível seguinte, após o pleno acesso a todas as benesses do primeiro patamar, haveria a busca por coisas como propriedade, emprego e renda, estrutura familiar, princípios morais etc. Assim, todas as necessidades humanas são elencadas, até que no ápice da hierarquia vem a auto-realização, que seria quando o indivíduo obteve tudo o que está abaixo na pirâmide e, alem disso, sente-se no exercício pleno de todos os seus talentos, seus sonhos realizados.

A Pirâmide de Maslow pode ser adaptada para o caso do enxadrista de mais de uma maneira, uma delas é a seguinte:

Nível 1:movimenta as peças corretamente (inclusive roque e en passant); sabe quantas fases tem uma partida; aceita com alegria o epíteto de capivara; é permitido que participe dos torneios; só consegue acessar a parte mais externa de uma roda de análises.

Nível 2: não perde peças em armadilhas óbvias; entende um mínimo de estratégia (como o conceito de peões dobrados); tem afeição por uma ou duas aberturas de jogo; já vence pelo menos um outro mais capivara que ele próprio; é um rato de torneios de final de semana; é aceito no miolo de uma roda de análises.

Nível 3: já pensou em largar o xadrez pelo menos uma vez, mas passou, ama o jogo; domina a tática e tem boa noções gerais de temas estratégicos; tem um repertório de aberturas para brancas e pretas; sabe que precisa conhecer bem finais de partida; chia quando lhe chamam de capivara e já não é um adversário desejado para uma primeira rodada de torneio; é aceito no círculo interno da roda de análises, à borda da mesa, e até dá uns pitacos.

Neste momento, o xadrezista já começa a aspirar aos dois últimos níveis, “quer ser gente” como se diz. Com muita força de vontade, treinamento, sorte e prática, alguns chegam lá.

Nível 4: largou tudo pelo xadrez; tática e estratégia já são compreendidas como faces de uma mesma moeda; já não se limita a gostar de uma ou outra abertura, joga de tudo e muito bem, inclusive sem o tabuleiro; dorme com o livro de finais de peões do Maizelis; é admirado, já dizem que é um mestre; senta na mesa ao redor da qual se forma a roda de análises.

Nível 5: olha o tabuleiro e sabe, sem contar, quantas peças há sobre ele; escreve livros de tática e estratégia; vê o xadrez como uma extensão natural do pensamento; usa aberturas raras, até inferiores… e massacra; encontrou alguns erros no livro de finais do Dvoretsky; já lhe chamam grande mestre; os jogadores abrem-lhe o caminho até a mesa no centro da roda de análises, onde é convidado a sentar, ele dispensa, observa, dá sugestões benevolentes e certeiras; sabe que escolheu a variante certa para si no xadrez da vida.

Os paralelos são abundantes entre o jogo e a vida, também no que diz respeito à realização das necessidades, desejos e ideais. O sonho do enxadrista é o sonho de todo ser humano: ser um pouco feliz entre um lance e outro, se o adversário deixar!


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