Não deveria nem estar ali… mas estava… e venceu!*

Já ouviu falar de Garry Weinstein, mestre de xadrez? Pois é, no passado, um verdadeiro mestre do xadrez podia ficar desconhecido por anos, até finalmente aparecer uma chance de revelar seu talento para o mundo. Aconteceu, inclusive, com grandes campeões do jogo.

A longa tradição de torneios regulares de xadrez remonta a meados do século XIX, quando aparecem clubes nas principais cidades europeias reunindo amadores e semi-profissionais. Houve, então, um número crescente de competições e isso gerou reconhecimento público para um grupo de jogadores cuja técnica era superior, traduzindo-se em muitas vitórias, eram chamados de mestres do jogo.

Não havia um ranking mundial ou pontuação estatística que refletisse a força de cada jogador, nada disso. Cada um trazia simplesmente seu nome e histórico de resultados: colocação nas principais competições, vitórias em disputa com outro mestre (que se conhece como match) etc. Era muito parecido com o que acontecera até alguns séculos antes em torneios entre cavaleiros medievais: simplesmente seus nomes carregavam o valor de suas glórias competitivas. Além disso, havia grande respeito pelos jogadores que publicavam obras sobre o jogo.

Depois, vieram os tempos da organização de ligas, federações, títulos oficiais de mestre e grande mestre e, por fim, a pontuação Elo (popularmente conhecido como rating FIDE) que permitiu comparar a força entre dois jogadores que nunca sequer se enfrentaram. Grande parte da mística se perdeu, apesar de, mesmo hoje em dia, jogadores como IvanchukAnand e Topalov serem sempre respeitados, não importa em que posição estejam na listagem Elo.

Para os padrões atuais, pode parecer estranho imaginar que uma competição de elite possa negar a participação de um jogador pouco conhecido, que não tenha o “merecimento” para estar ali. Afinal, basta ver sua pontuação internacional.

Mas nem sempre foi assim. Vejamos abaixo alguns exemplos de fortíssimos desconhecidos que eixaram seu nome na história do xadrez:

J. R. Capablanca

Em 1911, foi realizado um dos maiores torneios da história, em San Sebastian, ao qual foram convidados os principais mestres da época, apenas aqueles que tivessem no curriculum pelo menos dois segundos lugares em torneios de elite. Foram convidados, por exemplo, Rubinstein, possivelmente o mais forte do mundo naquele ano, Janowski e Schelechter, últimos desafiantes de Lasker ao título mundial, além de outros respeitados mestres. Um dos inscritos, porém, foi o jovem cubano José Raul Capablanca, de apenas 22 anos de idade, cujo histórico internacional basicamente se resumia à vitória em match contra o campeão dos Estados Unidos Frank Marshall (que também jogaria em San Sebastian). Alguns foram veementemente contra a participação do cubano (o maior opositor, Ossip Bernsteinhaveria de se arrepender em breve), mas ele acabou por ser aceito na disputa. Capablanca venceu o torneio de forma convincente, concedendo apenas uma derrota a Rubinstein. Dez anos depois, Capablanca derrotaria Lasker para se tornar terceiro campeão mundial da história.

Sultan Khan

Um dos casos mais curiosos aconteceu em 1929, quando Sultan Khan, o melhor jogador de xadrez da India (na época um país sem expressão no jogo, apesar de ser a terra natal do xadrez), veio a Londres acompanhando seu senhor, um Coronel do Império indiano (sim, ele era um simples servo) e foi acolhido pela comunidade enxadrística local, que reconheceu sua habilidade e ajudou com alguma teoria sobre o jogo (ele não era alfabetizado em inglês e não sabia ler os livros disponíveis). Para surpresa geral, Khan venceu o campeonato britânico daquele ano, mas logo depois retornou à India! No ano seguinte, seu senhor o trouxe de volta a Londres, e Sultan Khan repetiu as conquistas do título britânico em 1932 e 1933. Teve boa participação em torneios neste período entre 1930 e 1933, com vitórias sobre os principais mestres da época como Capablanca, Rubinstein, Tartakower e Flohr, além de defender a equipe britânica em três Olimpíadas de xadrez . Retornou à sua terra natal em 1933 e, com exceção de um match contra o indiano V. K. Khadilkar em 1935 (9 vitórias e 1 empate), não se tem notícia que jamais tenha voltado a jogar xadrez. Em 1950, quando a FIDE criou a titulação de Mestre e Grande Mestre Internacional e outorgou esses títulos a jogadores do passado, mesmo alguns já fora das competições como Rubinstein e Carlos Torre, Sultan Khan foi deixado de fora, de forma injusta.

Anatoly Karpov

Karpov 1967
Um jovem Anatoly Karpov em 1967

Em 1966, já existia a titulação internacional, mas não a pontuação Elo. A Federação de Xadrez da URSS recebeu um convite da Federação da Tchecoslováquia para enviar dois Grandes Mestres para um torneio de elite a ser realizado na cidade de Trinec. A URSS enviou dois juvenis, um deles com 15 anos de idade chamado Anatoly Karpov (o outro era Viktor Kupreychik com 17 anos de idade). Os organizadores ficam contrariados, certamente os soviéticos haviam cometido um engano, mas não havia mais tempo de fazer alterações. A aposta valeu a pena, pois Karpov venceu o torneio com 1,5 pontos de vantagem sobre os dois segundos colocados (um deles era seu colega Kupreychik, a quem venceu em partida belíssima). Em 1975 Karpov foi declarado Campeão Mundial de Xadrez após a desistência de Bobby Fischer. Ele foi um dos campeões mais vitoriosos do jogo e permaneceu com o título por 10 anos.

Garry Weinstein

Kasparov 1978
Garry Weinstein em 1978

Passados mais alguns anos, já estavam bem estabelecidos o sistema de pontuação Elo e o sistema de titulação internacional dos jogadores de xadrez. Como acontecera em 1966, a Federação soviética recebe um convite para enviar dois Grandes Mestres para participar em um torneio na cidade de Banja Luka, então Iugoslávia. Desta vez, os soviéticos enviam Tigran Petrosian (ex-campeão mundial) e um jovem de apenas 16 anos de idade, sem títulos e sem pontuação internacional, chamado Garry Weinstein. Novamente, os organizadores ficaram contrariados, mas o jovem foi inscrito na competição, sob forte protesto de alguns participantes como o Grande Mestre Milan Vukic que, assim como Bernstein, haveria de se arrepender. Weinstein venceu o torneio sem derrotas e com 2 pontos de vantagem sobre o vice-campeão. Seu compatriota, Petrosian, foi apenas o quarto colocado. Pouco depois, Weinstein  passou a utilizar o sobrenome Kasparov (de sua mãe) e tornou-se campeão mundial ao derrotar Karpov em 1985. É considerado por muitos o maior jogador da história. Ele se retirou das competições em 2005 após vencer o Torneio de Linares daquele ano e estar há quase duas décadas praticamente solitário como número 1 do mundo.

Vladimir Kramnik

Outro caso interessante aconteceu em 1992, nas Olimpíadas de Xadrez de Manila. Com o fim da URSS, os russos tinham a difícil tarefa de manter a hegemonia nos tabuleiros após perder fortes mestres para países como Ucrânia e Armênia. Na ocasião, Kasparov sugeriu que um dos membros da equipe deveria ser o jovem Vladmir Kramnik, 16 anos de idade e “apenas” mestre FIDE, em detrimento de outros fortes Grandes Mestres russos em melhor posição no ranking mundial. Apesar de ter sido uma decisão apertada, a Federação Russa confirmou o jovem na equipe. Kramnik foi o jogador com melhor desempenho individual da competição com 8 vitórias e 1 empate (94,4% dos pontos possíveis) ajudando a Rússia a vencer a primeira olimpíada após a era soviética e recebeu também Medalha de Ouro por seu desempenho individual. Por estes feitos, Kramnik obteve diretamente o título de Grande Mestre Internacional de xadrez. Em 2000, ele foi o primeiro ser humano a derrotar Kasparov em um match pelo Campeonato Mundial, e manteve o título até 2007.

Ainda teremos mais surpresas?

Nos dias atuais, grandes talentos atuais são conhecidos desde tenra idade, como Carlsen e Karjakin, e têm seus passos avidamente seguidos pelos fãs do jogo. Sabe-se que é apenas questão de tempo para que brilhem nas mais altas esferas. Surpresas como as descritas acima são hoje muito difíceis de acontecer, mas histórias como a de Sultan Khan continuarão para sempre a inspirar muitas gerações de jogadores.

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*Uma versão anterior deste texto apareceu aqui no LQI em Janeiro/2017

Memórias de um enxadrista*

Há treze anos eu jogava minha primeira partida num torneio de xadrez. Tinha as peças brancas. Confiante, aventurei-me com “1. e4”, e fui surpreendido pela, então inédita, defesa Siciliana, “1. … c5”. Foi minha primeira derrota em torneios.

Desde então minha devoção ao jogo aumentou, voltei com afinco às páginas do Xadrez Básico, comecei a ter aulas, disputei outros torneios. Foi um ano dedicado a melhorar minha técnica na intricada arte das 64 casas. Ao final deste ano eu terminava o Campeonato Estadual Absoluto (de todas as categorias) num honroso (para mim) oitavo lugar, melhor colocação dentre os jogadores de minha idade.

Aquele foi um tempo de grandes descobertas sobre o tabuleiro: um pouco de aberturas, um pouco de meio-jogo, um pouco de finais de partida. Muitas vezes, nas metafóricas combinações do nobre jogo, incipientes lições de vida eram reveladas.

Passei toda a adolescência e início da vida adulta pensando quase que diariamente em alguma situação enxadrística. O xadrez fez parte de minha vida em ocasiões importantes: entrada no segundo grau e na universidade, vivência no exterior (onde também disputei torneios), primeira namorada, primeiro emprego, primeiro carro.

Mas, ironicamente, o próprio desenrolar da minha vida foi-me afastando do enxadrismo, as metáforas com o jogo foram rareando, até que, com tristeza, sinto-me hoje quase um estranho ao universo que ronda o xadrez. Se, por acaso, visitar uma sala de torneio qualquer em minha própria cidade, é bem provável que eu não conheça boa parte dos jogadores.

Vêm à mente, muitas vezes, imagens variadas: dos bons amigos que fiz nos torneios, das muitas derrotas, das vitórias importantes que me impulsionaram a continuar. Refaço mentalmente as variantes que tomei e que, pouco a pouco, levaram minha vida para cada vez mais longe dos tabuleiros.

Felizmente, quando parece que perdi os laços com o jogo dos reis, uma bela partida num livro ou na internet reaviva a velha chama, e sou novamente como o garoto que há treze anos descobria, com o rei inclinado, a eficácia da temida defesa Siciliana.

***

*Texto de 2005

O supersticioso, se morrer, morre de velho

Josué era um ávido leitor de tudo quanto era conteúdo de xadrez. Gostava bastante de textos que combinassem análises de partidas com uma boa dose de lirismo.  Passaram por suas mãos e vistas livros como El Ajedrez de Torneo (que infelizmente precisou se esforçar para ler em espanhol pela ausência de uma tradução nacional), seu autor, David Bronstein, não se limitava a lançar variantes secas, mas sempre trazia algo além, em prosa. O livro Piense como un gran maestro, do Kotov, também cumpria bem esse papel, embora ali não se analisassem partidas completas.

A alegria de Josué foi grande quando ele encontrou num sebo o livro de crônicas de Hélder Câmara, intitulado Diagonais: crônicas de xadrez. Se havia um estilo mais agradável aos gostos de Josué era aquele usado nos textos daquele livro. O autor era um mestre com os trebelhos e com as palavras! Entendia tanto de tática e estratégia, quanto de nuances da vida humana. Ao correr os olhos sobre o índice, Josué logo percebeu que o mestre Câmara também tinha uma predileção pelo grande “Mago de Riga”, o ex-campeão do mundo Mikhail Tal.

Ao ler uma das crônicas, Josué foi literalmente às lágrimas, enlevado pelo simbolismo da partida, a derradeira do Mago, jogada poucos dias antes de sua morte. O que mais impressionou Josué foi o fato de que o último lance da última partida de Tal consistisse em retornar com o rei até sua casa inicial – rei um do rei – levando o adversário a abandonar a luta. “Homem, és pó e ao pó voltarás” escreveu Câmara ao lembrar o texto bíblico, e arrematou: “assim (…), Tal despedia-se da vida do xadrez (e …) do xadrez da vida”.

Profundamente impressionado, Josué passou algumas semanas sem tocar o tabuleiro, apenas lia e releia a crônica, fantasiando se Tal havia feito cada uma daquelas jogadas de sua partida final sabendo que ali acabaria tudo.

A deusa Caíssa gostava de fazer tratos com alguns homens, Josué sabia, e não duvidava que talvez até houvesse um céu só para enxadristas, onde deveria estar Bobby Fischer, que fora levado após somente 64 anos de vida, um ano completo para cada casa do tabuleiro. E, agora, Tal selar a sua vida com o enigmático retorno do monarca até a casa um do rei… Era muito estranho.

Com o tempo, porém, ele foi retomando sua rotina normal, a crônica e a partida continuavam com ele, mas tornara-se mais fácil pensar que tais mistérios não passavam de falsas relações que a fértil imaginação humana quer impor ao Acaso.

Josué já não era tão jovem, desde que se aposentara gostava de participar de todos os torneios que aconteciam em sua cidade, talvez como forma de compensar os anos que passara afastado em decorrência de afazeres profissionais e familiares. Agora, sempre que possível, estava em frente a um tabuleiro.

Meses após ler a crônica, momentaneamente esquecido dela, Josué jogava com as peças pretas uma partida de torneio e tinha diante de si uma posição vencedora, com xeque-mate a descoberto. Bastaria fazer um lance: rei um do rei – retornar seu rei para a casa inicial. O adversário estava pálido, certamente rezando para que Josué não visse o mate, mas era uma jogada muito fácil. Além do mais, qualquer outra jogada daria chance às brancas de igualar a partida. Com um sorriso retido a muito custo, Josué esticou a mão até seu rei e o segurou entre o polegar e o indicador, mas algo o interrompeu.

O adversário pensou que fora a Providência, porém era uma terrível dúvida que acometera Josué. E se ele também tivesse o mesmo destino de Tal? E se a quantidade de jogadas de sua vida estivesse determinada para se completar naquele dia, após o retorno do rei? “Homem és pó…”, em vez de lances, os versículos rondavam sua mente.

Não, não havia qualquer lógica. Que bobagem. E voltou a imprimir força à mão estática que segurava o rei. Lembrou-se, então, que seu adversário se chamava Miguel, e parou novamente.

Tal era Miguel também!

Estava com 64 anos, ainda queria tanto viver e jogar… Se houvesse um céu para enxadristas, certamente ainda não estava pronto para lá. Moveu o rei, já que havia tocado aquela peça, porém para a casa dois do bispo – xeque, mas não mate, permitindo alívio do monarca inimigo. As brancas acabaram vencendo, para alegria de Miguel, embora fosse Josué quem parecesse aliviado.

Ainda hoje, ele joga torneios pela cidade. A idade avança aos poucos, como peões no tabuleiro. Quem observar de perto suas partidas perceberá rapidamente seu segredo: Josué jamais retorna com seu rei até a casa inicial! Nem mesmo para dar (ou escapar de um) xeque-mate.

*****

Desafio aos leitores: que tal compor uma posição plausível – uma posição problema – para o arremate possível na partida entre Miguel e Josué, conforme narrado no texto? Os requisitos estão todos lá. Envie o diagrama ou o código FEN para rewbenio@lancesqi.com.br, publicarei uma coletânea dos problemas recebidos, devidamente identificados com seus autores.

Conheça Rafael Leite do Canal Xadrez Brasil

“Faço o que faço por paixão, não espero nada em troca”
Sorriso de quem faz o que gosta, e faz muito bem!
“Fala galerinha do xadrez!” Quem ainda não conhece essa saudação inicial está perdendo tempo! Assim são iniciados os vídeos do canal Brasil Xadrez no Youtube, sempre na voz de seu criador Rafael leite.
Rafael conseguiu criar o maior canal de xadrez do Brasil em número de inscritos! Alguns podem achar que é uma tarefa fácil, mas não é! Para se ter uma ideia, o canal de Rafael tem hoje mais inscritos que o canal do GM Daniel King, o Power Play, sendo que a audiência de King se estende a todo o mundo, pois seu conteúdo é em língua inglesa, enquanto que Rafael trabalha numa base de usuários bem menor, que são os falantes da língua portuguesa.
Isso é só um dos fatores que atestam a qualidade do trabalho dele! São vídeos que usam o formato de análise de partidas completas, num ritmo que algumas vezes lembra uma animada narração de futebol e, é claro, ensinam dicas valiosas das diferentes fases do jogo para as milhares de pessoas que acompanham o canal.
Rafael gentilmente reservou um tempo para responder algumas questões que nos ajudarão a entender um pouco de suas ideias e motivações, tanto no xadrez quanto na vida!
1) Rafael, fale um pouco sobre você, em especial aquilo que não tem a ver com xadrez.
Sou um cara comum. Casado, pai de uma filha, trabalhador. Sou caseiro, tranquilo, amo a vida e as pessoas. Meu sonho é construirmos um mundo bem melhor. Avante!
2) Você conhecia o blog Lances Quase Inocentes (LQI)?
Não conhecia, fiquei admirado com a qualidade do conteúdo do blog, já estou acompanhando.
 
3) Como você aprendeu xadrez e como esse jogo se tornou importante na sua vida?
Aprendi aos 5 anos de idade com meu pai e meu avô materno. Jogava com meu irmão e meu pai em casa. No entanto, acredito que eles não gostavam do tanto jogo quanto eu. Sempre pedia para jogar, mas acabávamos fazendo outras coisas. Na época não havia internet (nasci em 1982), então simplesmente coloquei essa paixão “em espera”. Somente aos 14 anos, mudei de colégio e na nova instituição havia aulas de xadrez. Por acaso, um amigo me pediu para entrar lá certo dia, pois ele tinha esquecido a mochila, entrei na sala de xadrez com ele para esperá-lo e foi assim que redescobri essa paixão. Me tornei aluno, em poucos meses já vencia o professor, e saí jogando torneios, Paulista, Brasileiro, Interclubes pela AABB, e passei a ser um frequentador ativo do CXSP (Clube de Xadrez de São Paulo). Por 3 anos, estudei em torno de 6 horas por dia. Depois veio cursinho, faculdade, namoros, acabei deixando mais uma vez o xadrez de lado. De 1 ano pra cá, a partir de 2018, resolvi tirar a paixão da gaveta e criei o canal Xadrez Brasil no YouTube, para extravasar tudo o que ficou acumulado uma vida toda. Deu certo, em menos de 5 meses eu me tornei o maior canal de Xadrez do Brasil, com mais de 50.000 inscritos. Acredito que aquilo que se faz com verdade e paixão, é percebido pelo público.
 
4) Você compete ou competiu regularmente em torneios ao vivo, ou prefere eventos e partidas online?
Entre 1997 e 1999 competi regularmente em torneios ao vivo por todo o Brasil, viajava praticamente todo mês. Há 20 anos que não participo de um torneio, mas neste ano (2019), vou jogar o Campeonato Brasileiro Amador em Junho. Não vejo a hora, é uma experiência incrível jogar torneios.
 
5) Gerar conteúdo sobre xadrez é uma tarefa árdua, pois a audiência é bastante crítica e seletiva e o retorno ao tempo dedicado costuma ser baixo. Qual tua motivação para superar essas dificuldades e ter um hoje um canal consolidado de vídeos de xadrez?
Faço o que faço por paixão, não espero nada em troca. Gosto de expor minhas análises, o contexto histórico, mostrar a evolução do jogo ao longo dos séculos, ajudar a desvendar os incríveis mistérios desta arte-ciência que é o xadrez. Gosto de explorar este mundo de beleza do xadrez, que quanto mais acompanhamos, mais enxergamos a sua grandiosidade e infinitude.
6) Você é um consumidor de livros de xadrez, ou sua geração já usa aplicativos e vídeos como principal forma de aprender sobre o jogo?
Aprendi sem internet, era debruçado em livros e tabuleiro mesmo. Sou a favor de estudar com peças e papel. Mas entendo que o mundo mudou. Hoje em dia, tudo acontece de forma mais dinâmica. Ficava sugerindo a meus amigos que queriam aprender xadrez a comprarem livros, tabuleiro e estudar. Todo mundo acha legal o plano mas acaba não fazendo, não dá tempo, não é prático. Para resolver isso, estou criando uma Academia Online de Xadrez, a Academia Xadrez Brasil, que será inaugurada em maio de 2019. Com aulas interativas online, a ideia é passar este conhecimento que existe em livros, de forma dinâmica, prática, simples e interativa. O aluno poderá aprender onde estiver, no metrô, em casa, no sítio, na praia etc, sem precisar de mais nada além de um celular, tablet ou computador.
https://www.youtube.com/user/rafa18sp/
Visão geral do canal Xadrez Brasil
7) Por que um canal no YouTube e não um blog?
Minha expressão flui mais facilmente em vídeos. Não tenho muita facilidade de extravasar tudo o que sinto de outra forma. Em vídeo, consigo ser espontâneo, mostro meus acertos, meus erros, minhas emoções, tudo de forma natural, sem passar borracha. Mas tenho vontade de ter um blog também, para uma outra forma de expressão, mais documental. O que me falta hoje para isso é tempo.
8) Pode deixar uma mensagem final para os seguidores do teu canal e os leitores do LQI?
Xadrez é encantador. Um mundo de beleza onde a arte imita a vida. Mas como tudo na vida, precisa de equilíbrio. Saiba caminhar.
Rafael, o LQI agradece pelo tempo que dedicou para responder às perguntas e te parabeniza pelo primoroso trabalho. Abraço! 

Gambitos? Sim senhor!

Com bolo especial, Sávio comemora seu 60º aniversário!
“Xadrez, pra quem joga e pratica,
é uma paixão eterna.” Sávio Perego


Uma das pessoas mais queridas do cenário enxadrístico nacional é o Sávio Perego! Tive o prazer de conhecê-lo nas competições nacionais dos Jogos do SESI em 2012, de lá pra cá temos nos encontrado pelas redes sociais e grupos de discussão de xadrez.

Sávio sempre falava de seus queridos gambitos, aberturas exóticas que não são comuns de se encontrar em torneios pensados, mas que costumam ser um terror nas modalidades mais aceleradas (sua especialidade).
Essa paixão está agora presente no YouTube, com o canal Xadrez e Gambitos by gbsalvio! Ele nos cedeu gentilmente uma franca e bem humorada entrevista.
1) Sávio, fale um pouco sobre você, em especial aquilo que não tem a ver com xadrez.

Jogo xadrez desde 1972, na febre que o jogo virou no Brasil por causa do match Fischer × Spassky, o ‘Match do Século’, considerado pela mídia em função da guerra fria, existente no mundo naquele momento.

Hoje, conto com 60 anos de idade, mas pra mim sou jovem ainda! Joguei futebol na várzea até meados do ano passado!

Tenho um casal de filhos um cientista da computação de 26 anos e uma menina de 20, que estuda medicina. Sou empresário no ramo de lentes oftálmicas.

2) Você conhecia o blog Lances Quase Inocentes (LQI)?

Conheci seu blog, LQI, devido a um torneio que jogamos juntos em 2012 em Goiânia. Competi no torneio de rápidas, fui vice-campeão, e você competiu no torneio de pensadas, torneio este a fase Nacional do Jogos das Indústrias, ou Jogos do SESI. Lá firmamos nossa amizade, e aí pude conhecer seu blog, muito bom por sinal!

3) Como você aprendeu xadrez e como esse jogo se tornou importante na sua vida?
Disse acima como comecei a jogar xadrez, devido a uma febre que virou o jogo nas escolas naquele tempo, me apaixonei de imediato! Jogo até hoje, mais online do que presencial, por causa dos afazeres sociais, família, empresa, mas agora com os filhos morando longe, aposentado, pretendo voltar a competir presencialmente. Xadrez, pra quem joga e pratica, é uma paixão eterna.

4) Você compete ou competiu regularmente em torneios ao vivo, ou prefere eventos e partidas online?
Nos anos 80 joguei bastante presencialmente, era solteiro, dava pra sair pra jogar os torneios Abertos de fim de semana, depois com o casamento, filhos, já era impossível competir, mas aí veio a Internet no inicio dos anos 90 e tudo ficou mais fácil para praticar e estudar a nossa arte.

5) Gerar conteúdo sobre xadrez é uma tarefa árdua, pois a audiência é bastante crítica e seletiva e o retorno ao tempo dedicado costuma ser baixo. Qual tua motivação para superar essas dificuldades e ter um hoje um canal consolidado de vídeos de xadrez?
Adoro xadrez e pra mim é um prazer pesquisar uma partida “bunitinha” de um gambito e fazer um vídeo com a mesma, claro devidamente analisada por mim! Sou colecionador de arquivos digitais de xadrez, tais como e-books, databases, vídeos etc. É meu hobby ficar baixando da net esses arquivos. Então, sou possuidor de boas databases de xadrez sobre diversas linhas, e mais especificamente de gambitos e linhas pouco ortodoxas. Joguei postal na net em diversos sites de 2002 a 2017, 15 anos jogando “baboseiras” das mais diversas linhas e gambitos pouco divulgados. Com essa database, são feitos, normalmente os vídeos do meus gambitos no canal. 

Comecei meu canal timidamente, até hoje com tão somente 250 inscritos ainda, mas acredito que vá crescer muito. Gerson Peres do CXOL é o meu maior incentivador desde a construção do canal até hoje. É um nicho muito pouco explorado pelos youtubers. Normalmente, pegam a partida do dia do Carlsen e analisam à exaustão. Repetem muito, muitas vezes o mesmo conteúdo. Já eu, sendo um apaixonado por linhas pouco convencionais, me enveredei por esse caminho de fazer tão somente vídeos sobre Gambitos! No meu canal dificilmente farei uma live, jogarei online e analisarei simultaneamente, que é a paixão dos “capivaras” em geral. Me pedem isso, mas serei fiel ao princípio de tão somente um vídeo por semana, de preferência gambitos. Assistir uma vídeo-aula de uma linha diferente, acho que é bastante prazerosa pra nós capivaras, penso eu!

6) Você é um consumidor de livros de xadrez, ou já se rendeu a aplicativos e vídeos como principal forma de aprender sobre o jogo?Estudei muitos livros entre 1976 a 1985, aproximadamente, que é a base teórica que tenho. Hhoje em dia gosto demais do Youtube com vídeos aulas, já não tenho “saco” pra estudar da forma antiga, livro mais o tabuleiro, prefiro ver vídeos no Youtube. E olha que se fosse pra estudar mesmo, minha biblioteca é gigante, em torno de 3 GB em e-books! Tenho uns 30 apps no smartphone, mas pra dizer a verdade não uso nenhum efetivamente.

7) Por que um canal no YouTube e não um blog?
Ter um canal no YouTube acredito ser bem mais direto ao publico, pois a visão é o principal sentido que temos, e falo isso com propriedade, pois vendo lentes oftálmicas, rs rs rs! Ver e ouvir faz com que aprendamos bem mais facilmente, e o conteúdo se fixa mais efetivamente!  Logo, logo terei um blog, ou um site mesmo, onde poderei colocar mais conteúdo, análises das linhas que terei no canal do YouTube, com os assinantes tendo a possibilidade de baixarem databases das linhas dos vídeos! 
Durante 47 anos de xadrez, até o momento, colecionei muitas coisas e quero poder compartilhar com o mundo, um pouco do que colecionei esses anos todos, antes de partir desta pra melhor.

8) Pode deixar uma mensagem final para os seguidores do teu canal e os leitores do LQI?
Gostas de xadrez agressivo? Gostas de jogar pra dar mate, se possível rapidamente? Gosta de linhas pouco convencionais? Então seus problemas acabaram, acesse Xadrez e Gambitos by gbsalvio e terás um mundo de linhas prazerosas pra se jogar em suas partidas de blitz, bullet ou mesmo rápidas!
Sávio, o LQI agradece pelo tempo que dedicou para responder às perguntas e te parabeniza por tanto amor ao jogo. Abraço!