A caminho da maestria: entrevista com o novo campeão estadual do RJ

Rodrigo Zacarias: campeão do RJ de 2013

Se você realmente quer alguma coisa, você precisa ter vontade, e, no caso do xadrez, é bom ter uma vontade maior que seus adversários (…)” R.Z.

Rodrigo Zacarias entrou no Estadual Absoluto do RJ de 2013 como o pré-classificado nº 13,  pouco cotado nos grupos de apostas. Após 7 rodadas, com um título estadual no bolso (+45 pontos de rating FIDE e +80 no rating CBX), seu torneio mais expressivo até agora, ele segue um caminho aberto rumo à maestria. Rodrigo é mais um exemplo de dedicação ao jogo associado ao destaque numa carreira profissional paralela (ele é engenheiro). Abaixo, ele gentilmente nos brinda com algumas dicas e compartilha de suas experiências enxadrísticas.

LQI: Qual seu primeiro contato com o xadrez?
RZ: Quando eu tinha 12 anos de idade, meus amigos da rua onde morava resolveram jogar xadrez. Isso porque um deles era, naquela época, campeão municipal sub 12 ou algo assim. Lembro como se fosse ontem, eu o achava um monstro do xadrez porque ele me dava mate em 4 lances (risos). Hoje, sei que ele me dava o tão famoso mate pastor, que na realidade não se dá, se toma … rs

LQI: Com qual idade aprendeu a mover as peças?
RZ: Aos 12 anos de idade, conforme mencionei acima. Meus amigos me ensinaram o movimentos. Daí para frente eu simplesmente fiquei cada vez mais fascinado pelo jogo. Morava com a minha vó, só eu e ela, e ela não sabe nada de xadrez, mas eu tive a sorte de ter um tio que me deu de presente uma coleção de 5 livros. Não lembro ao certo de todos, tinha um glossário, um básico de aberturas, um básico de estratégia, mais um que não me lembro e o quinto e mais importante … “Partidas Selecionadas” de Vasily Smyslov. Excelente o livro, foi com ele que comecei a entender como se devia jogar xadrez, criando planos, observando debilidades, seguindo princípios estratégicos. Costumo dizer que aprendi xadrez com Smyslov …rs. Recomendo a todo jogador ler este livro.

LQI: Quando começou a participar de torneios?
RZ: Eu não tinha muito com quem jogar, temos que entender que não vivemos na Rússia e não tem xadrez em toda a praça para se jogar. Então eu lia muito sozinho, porque eu realmente gostava. Computadores não eram muito difundidos na época, e não havia as salas virtuais para se jogar xadrez. Então, meu primeiro torneio eu só joguei aos 24 anos de idade e foi um IRT, no qual eu fiquei em segundo, atrás somente do mestre Ricardo Teixeira. Depois que me formei, no entanto, fiquei dois anos fora do Rio e só voltei em 2007, quando, aí sim comecei a jogar com mais frequência torneios, no entanto, nem perto de quantos eu gostaria …rs. 

LQI: Gosta mais de treinar com livros ou com computadores?
RZ: Hoje em dia as informações, os conhecimentos surgem e se transmitem com muita velocidade. Adoro ler livros sobre xadrez, mas num mundo competitivo de hoje não tem como ficar somente neles. As máquinas estão refutando tudo que é variante, mudando conceitos. Então, eu estudo muito em cima de computador, mas não consigo me afastar do charme dos livros, que ficaram como artigo de consulta, para me dar ideias e cobrir minhas deficiências técnicas, que aliás, são muitas …rs.

LQI: Você indica algum site onde há material de estudo disponível ou uma sala online com jogadores fortes para treinar?
RZ: Eu só jogo no ICC. É pago, mas acho que o custo/beneficio vale a pena. Muitos jogadores fortes estão pagando para estar lá, pressupõe-se que levam o xadrez a sério. Além de, semanalmente, serem apresentados assuntos muito interessantes sobre o jogo em forma de vídeo-aulas.

LQI: Quais suas principais vitórias em torneios oficiais? Quais torneios importantes você ganhou ou se destacou?
RZ: Esse primeiro FIDE que joguei foi um ótimo torneio, não fui campeão, mas me iniciou muito bem nesta vida competitiva. Gosto muito de jogar o interclubes aqui do Rio, sempre defendi o Clube Municipal, que me acolheu muito bem desde o meu começo como jogador de competição. Fui bem em alguns IRTs, conseguindo empatar com alguns MFs aqui do Rio.  Mas, sem dúvida alguma, este estadual foi o resultado mais expressivo.

LQI: Qual sua partida própria preferida? E qual a preferida de outros jogadores?

RZ: Tenho algumas que gostei, mas se for para eleger uma … a parida contra o MF Wagner Peixoto foi tecnicamente perfeita para mim, muito estratégica, arremate tático. Consegui uma vitória de negras contra um jogador forte, gostei muito. Muitos gostaram desta, mas há quem diga que a partida contra o MF Hilton Rios foi mais bonita, compreensível … teve sacrifício e emoção … a galera gosta ..rs,  mas se o Hilton simplesmente não toma o peão e joga uma torre em a4 simplesmente eu estaria mal na posição. Mas, o risco valeu a pena, ganhei e ainda agradei a torcida ..rs


LQI: Quem venceria em 1975, Karpov ou Fischer?

RZ: Pergunta de vestibular não vale ..rs
Sou fã do Karpov, mas creio que Fischer iria bolar um jeito de dobrar a lógica e precisão de Karpov. Ele era um gênio capaz de surpreender, tal como Kasparov.

LQI: Qual jogador você admira?
RZ: Muitos. Smyslov, meu mestre ..rs. Mas gosto do método de Botvinnik, da agressividade do Alekhine. Hoje em dia, admiro a tenacidade de Anand, a vontade de vencer do Carlsen e do jogo agudo do Topalov também.

LQI: Você acaba de contrariar os prognósticos e vencer de forma incontestável e invicta o ’38º Campeonato Estadual Absoluto do RJ’ a frente de vários mestres tradicionais do seu estado. Como foi a preparação e o que você falaria para motivar outros jogadores amadores a tentar repetir sua façanha?
RZ: Foi uma surpresa realmente. Fui focado para conseguir classificação para a semifinal do brasileiro e fisguei o título …rs.
Minha preparação foi bem intensa, desde o carioca que classificou para o estadual, há um mês. Eu jogava um jogo com ritmo de 1h:30min sem incremento toda segunda a noite, o que me ajudava a encontrar o foco necessário para se jogar uma partida pensada. Eu estudava 2 horas por dia de terça a sexta e depois ia malhar … estar sempre em forma ajuda a oxigenação do corpo, me deixa disposto e penso melhor, memorizo as coisas melhor. E estudava de 7:00 a 12:00 no sábado e domingo só para fechar bem a semana ..rs. Ou seja, meu resultado tem 10% de talento e 90% de dedicação, disciplina e vontade e essa é a mensagem, que não serve só para o xadrez. Se você realmente quer alguma coisa, você precisa ter vontade, e, no caso do xadrez, é bom ter uma vontade maior que seus adversários, diga-se de passagem …rs

O LQI agradece ao campeão estadual do RJ de 2013 e termina essa postagem com a partida que ele indicou como a sua melhor, além de ter sido esta a partida que selou sua vitória no torneio.

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3 comentários em “A caminho da maestria: entrevista com o novo campeão estadual do RJ”

  1. Desculpe, Senhor anônimo.
    Infelizmente, só tomei conhecimento do comentário 1 ano depois.
    Porém. pelo ter do comentário, sabemos que temos nossas desavenças e que não se trata de xadrez, certo ?
    Ainda em tempo, é sempre melhor resolvermos os conflitos de forma racional e direta. Tentar denegrir minha imagem de forma covarde não vai trazer paz de espírito para sua pessoa.
    Att, Rodrigo.

  2. Bela partida e PARABÉNS pelo merecido título, Campeão! O Zaca é craque nos tabuleiros, nos campos e na vida. Gente finíssima, o único defeito é ser rubro-negro, rss. Abração e saudações tricolores do amigo do CMUN! Rogério

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