Uma lenda lendária

Conhecer-se… talvez seja a mais difícil das tarefas!

Conta-se que, certa vez, Yo Ping, um jovem sedento por sabedoria, procurou Mestre Kon, que há muito havia-se retirado para as altas colinas do Oeste, para ali manter-se em serena meditação e contemplação das ações da natureza.

O jovem Yo Ping viajou por três dias, refugiando-se à noite sob as árvores, concentrando-se para afugentar maus pensamentos e conciliar o sono reparador.

Mestre Kon surpreendeu-se quando, ao final do terceiro dia de viagem, Yo Ping chegou ao seu acampamento simples, fez uma cortês reverência e pediu para ficar com ele por um tempo, compartilhando de suas lições.

O mestre não respondeu, tampouco fez nada que pudesse ser interpretado como uma negação. Assim, Yo Ping permaneceu ao lado dele por mais três dias.

Neste tempo, os dois, embora jamais juntos, desempenhavam as mesmas atividades corriqueiras e observavam-se mutuamente, um pela veneração, outro por simples curiosidade, ou talvez porque reconhecesse no jovem aquele que um dia havia sido.

Na manhã do quarto dia, Mestre Kon olhou profundamente nos olhos de Yo Ping e perguntou

– O que buscas aqui?

– Sei que és um mestre e anseio por aprender contigo a sabedoria.

O mestre já suspeitava das intenções do aprendiz e, durante os três dias, havia estudado cuidadosamente as atitudes do jovem, percebera sua boa vontade, mas também havia notado algo fundamental.

– Conheces a ti mesmo?

Ele respondeu rapidamente

– Sim, mestre, creio que sou quem melhor me conhece em todo o mundo.

O mestre já esperava aquela resposta.

– Então, sabes que em tuas meditações sentas-te sempre sobre o teu pé direito, que inicias teu sono voltado para leste e acordas voltado para o sul. Sabes que a brisa da tarde faz-te coçar a orelha esquerda?

Yo Ping não sabia do que o mestre falava. A princípio julgou ser algum tipo de teste, de intimidação. Ele não sabia se em todas as vezes em que meditava sentava-se sobre o mesmo pé, nem podia garantir que sempre dormia voltado para leste, nem de que coceira o mestre falava.

Desta vez foi Yo Ping quem tornou-se silencioso e, por outros três dias, meditou sobre as observações do mestre. Notou a verdade nas palavras do ancião e, por fim, voltou à sua presença.

– Não, mestre, eu não me conheço.

– Talvez, agora tu tenhas começado a adquirir este conhecimento – replicou o mestre. A sabedoria é como o final duma viagem que não chega ao fim, o último passo sempre revela que haverá um próximo. O início da viagem, entretanto, repousa no auto-conhecimento. Vai, inicia tua viagem rumo à tua própria descoberta. Só quando julgares que cumpriu esta etapa é que poder-te-ei ensinar algo de valor.

– E quando saberei que é hora de voltar?

– No momento que teu auto-conhecimento for completo, sentirás que deves retornar até mim.

Yo Ping partiu naquela mesma manhã. Em seis dias havia conversado com o mestre apenas durante poucos minutos, mas sentia que aprendera o que necessitava naquele momento.

Mestre Kon, sem alteração perceptível no rosto, sorriu por dentro ao presenciar mais uma vez alguém iniciando a busca sincera por seu próprio conhecimento. Contemplou a partida do discípulo sabendo que havia-lhe ensinado tudo o que havia por se ensinar. Por fim, voltou às suas meditações.

Yo Ping refez o caminho de volta observando atentamente tudo o que fazia e o que pensava, como reagia às diversas situações. Quando avistou a vila natal, algo dentro de si o fez pensar que seria necessário algum afastamento, um tempo para aprender sozinho, sem interrupções ou distrações, quem ele realmente era.

Partiu no mesmo dia.

Procurou por terras remotas, onde pudesse viver com o básico oferecido pela natureza. Fixou acampamento numa região de planície, oposta à região de colinas onde habitava Mestre Kon.

Dia após dia, esmerou-se na tarefa que aceitara empreender. Entretanto, sempre achava que era necessário mais tempo. Passaram-se meses e anos, e Yo Ping jamais se sentia pronto para retornar à presença do seu mestre.

Certo dia, vinte e três anos após ter-se voluntariamente exilado na região dos vales, Yo Ping surpreendeu-se ao ser reverenciado por um jovem de aspecto compenetrado.

– Sei que és um mestre, e gostaria de contigo aprender o caminho da sabedoria.

Yo Ping, ou Mestre Ping, percebeu, então, toda a verdade. Sabia que jamais voltaria a ver Mestre Kon, mas, ao mesmo tempo, sabia que sua busca era genuína e teria de continuar.

Por três dias observou o jovem, cujo nome perdeu-se na poeira dos tempos, e na manhã do quarto dia, lançando um olhar profundamente piedoso sobre ele, Yo Ping perguntou:

– Conheces a ti mesmo?

***

As Misteriosas Peças do Sr. Borges

Na mesma linha de produção de literatura de ficção com elementos do jogo de xadrez, acabo de publicar mais um conto inédito na Amazon Brasil. O novo conto se chama “As Misteriosas Peças do Sr. Borges“. Conheça mais sobre ele  abaixo:




Sinopse do conto:  Um jovem estudante, fascinado com um jogo de peças de xadrez que parecem ter vida própria, resolve encontrar o artesão que as fabrica e se oferece como aprendiz. A admiração pelo artista ancião logo dá lugar à desconfiança, quando pensa que os segredos de fabricação das peças lhe são sarcasticamente negados. Porém, ele não tardará a descobrir a verdade… ou o mais próximo disso!

Em breve, esse conto será também incluído no meu e-Book “O jogador que desejava perder”, que passará a ter 13 contos. Quem já adquiriu o livro, receberá automaticamente a atualização, quem ainda não adquiriu poderá fazê-lo sem nenhum custo pelo novo conto adicionado à obra (continuará o mesmo preço inicial). A atualização do livro com o 13º conto deverá estar disponível até o final de julho corrente.

Sinopse do livro:  Nesta coletânea de 12 {em breve 13} contos com temática ligada ao jogo de xadrez, são exploradas as semelhanças muitas vezes ocultas entre a vida e o jogo. Há tantas ligações assim?

As seguintes palavras, presentes no prefácio, resumem bem esta obra:

“O que espera o enxadrista do outro lado da vida? Poderia Deus ter criado a humanidade por causa do “Rei dos Jogos”? Existe alguma coisa em comum entre o “Jogo da Seis Aflições” e a literatura? Saiba mais sobre o grande valor do peão; imagine como se sente uma peça durante o jogo e depois dele; ria com a tradução mais bizarra da história do xadrez; revolte-se com a trapaça que quase ninguém viu; veja muitas metáforas envolvendo peões; compreenda por que nunca se deve menosprezar um jogador, mesmo sendo ele um ‘capivara’; acompanhe a profecia de um espelho sobre a última partida de um enxadrista; descubra o que acontece quando um jogador toca acidentalmente uma peça; conheça o lugar onde o resultado de uma partida de xadrez decidia quem deveria morrer e quem deveria viver.”

Sem dúvidas, o leitor que não conhece o xadrez passará a ver o jogo com olhos mais atentos, enquanto que o enxadrista prático certamente verá que a riqueza do jogo vai bem além de combinações, táticas e estratégia, pois é metáfora precisa para quase todas as vicissitudes humanas.

Novo livro: O jogador que desejava perder


Após a primeira experiência de publicação de um livro, com “Que Peça eu quero ser?”, passei a me dedicar aos textos aqui para o blog, além daqueles que publico no excelente blog Reino de Caíssa.

Já faz algum tempo que passei escrever contos e crônicas com o intuito de mostrar o enxadrista prático que xadrez também rende literatura e, por outro lado, apresentar o universo do xadrez ao leitor de contos e crônicas. Acredito que a estratégia tem rendido frutos, verificados via compartilhamentos espontâneos de meus textos em redes sociais ou em convites para colaborar em outros meios, como no ‘Reino de Caíssa’. Isso tem sido por demais gratificante: é o que me motiva a continuar.

Há alguns meses, enquanto trabalhava num outro projeto enxadrístico-literário (do qual falarei daqui a algum tempo) percebi que tinha material suficiente para um pequeno livro de contos! Tamanho ideal para tentar meu primeiro passo na publicação independente online.

O jogador que desejava perder traz doze contos que exploram temas ligados ao jogo de xadrez: a natureza oculta das peças, as angústias das disputas sobre o tabuleiro, as semelhanças entre o xadrez e a vida etc. No final, não são histórias de enxadristas quem movem peças, mas de seres humanos que se mostram em toda sua essência enquanto jogam ou pensam sobre xadrez. Alguns textos foram publicados originalmente nos blogs citados acima, porém todos revisados e, em alguns casos, renovados. Além desses, há outros que foram escritos especialmente para esta ocasião.

Gostaria de agradecer aos leitores, enxadristas ou não, pois o objetivo de todo escritor é ser lido, esse é o maior prêmio. Agradeço minha família, principalmente pela paciência quando estou recolhido escrevendo ou pensando no que escrever, além do retorno que recebo deles, sempre os primeiros a ler ou escutar as histórias ainda recém-saídas dos meandros da imaginação.

Em especial, deixo meu agradecimento ao amigo e premiado escritor Lucêmio Lopes da Anunciação, um dos primeiros que me fez perceber que um engenheiro também pode ser um bom contador de histórias, pela gentileza em ler o original e preparar um belíssimo prefácio, agregando inestimável valor ao livro.

Agradeço aos que tiverem curiosidade de conhecer o livro: comentem suas impressões no próprio site da Amazon, adicionem na lista de desejos, compartilhem com os amigos. Quanto mais histórias baseadas em nosso jogo estiverem difundidas entre o público em geral, mais o xadrez ganhará seu merecido espaço em nossa sociedade.

Xadrez x Futebol em tempos de Copa do Mundo na Rússia!


Nos grupos de discussão sobre xadrez é tolerado que apenas um assunto se intrometa algumas vezes: o futebol! Ainda mais agora, durante a Copa do Mundo da Rússia, a terra do xadrez!

Assim, não é de se estranhar que, em meio a comentários de torneios, problemas de mate em três e outros assuntos típicos do meio enxadrístico, apareçam provocações futebolísticas (ainda que rapidamente censuradas pelo administrador do grupo, que levanta um cartão amarelo).

Num dos grupos, apareceu um jogador que também é árbitro tanto de xadrez como de futebol! Foi o suficiente para aparecer uma pergunta sobre a eterna polêmica entre “mão na bola” × “bola na mão”. Ao ler a excelente explicação do colega, pensei numa analogia com o xadrez:  “mão na bola” é “peça tocada, peça jogada”, mas “bola na mão” é “j’adoube“!


Haveria mais alguma analogia? Fiquei pensando depois (certamente eu não fui o primeiro). Se o xadrez é a vida em miniatura e o futebol é uma caixinha de surpresas, poderia encontrar mais coisas em comum.

Os esquemas táticos podem ser comparados às aberturas: o 1-2-7 é o Gambito do Rei, o 4-4-2 é a Ruy Lopez, o “Carrossel Holandês” é o Ataque Fegatello, o 4-5-1 é o Sistema London; e por aí vai.

Há também clara analogia entre as peças no tabuleiro e as posições dos jogadores em campo: os peões são a zaga, os cavalos são os volantes, as torres os laterais, os bispos jogam no meio-campo e a dama é a artilheira. O rei, claro, fica no gol! Até o enxadrista tem lugar na analogia: ele é o técnico da equipe (mas, graças a Deus, é bem menos xingado).

Se tem uma coisa que não deu para comparar entre xadrez e futebol foi a torcida. Neste quesito são diametralmente opostos: ao redor do gramado estão numerosos e barulhentos torcedores; ao redor do tabuleiro, quando muito, se reúnem alguns silenciosos perus (mães, namoradas, namorados e afins não costumam aparecer).

Mas quando o assunto é quem foi melhor do que quem, aí fica tudo parecido de novo! Esses dias, num outro grupo, voltou a eterna polêmica: quem foi melhor, Fischer ou Kasparov (ou outro)? Apaixonadas razões foram levantadas por fãs incansáveis de um e de outro, fatos citados, especulações lançadas, números debulhados! A polêmica nunca termina. Aí eu lembrei do futebol de novo: Fischer é Pelé, Kasparov é Maradona!

Pra quê fui falar…?

Alguns protestaram, pediram para trocar os pares da comparação, outros falaram de Neymar, Zico, Di Stéfano, Puskas, Leônidas e até Biro Biro! La Bourdonnais foi comparado a Garrincha, o injustiçado, num dos poucos momentos de concordância.

Alguém perguntou, malicioso: “Se Kasparov é Maradona, qual foi o gol de mão?”. Lembrei, então, do episódio contra Judit Polgar, quando ele soltou a peça e depois voltou seu lance; mas fez tudo isso com sua própria mão, jamais alegou ser a de Deus!

Assim, do nada, percebi que se quiser, posso passar horas falando de semelhanças entre os jogos: perder um pênalti é como não ver um mate em um, o impedimento é semelhante a quando uma peça está cravada, a grande área é a ala do rei, os peões protegendo o rei no roque são a barreira das faltas etc.

São tantas semelhanças que talvez até fosse pertinente, numa licença poética, alterar a célebre frase do Dr. Tarrasch (poderia também ter sido do Dr. Sócrates): o xadrez, como o amor, como a música, (como o futebol) tem o poder de fazer os homens felizes!

Compartilhe: bit.ly/XadrezFutebol


(*) Uma primeira versão deste texto apareceu em primeira mão no blog parceiro Reino de Caíssa

Quando a partida termina (*)


“Não sabem que a mão assinalada
do jogador governa seu destino,
não sabem que um rigor adamantino
sujeita seu arbítrio e sua jornada.

Também o jogador é prisioneiro
(a máxima é de Omar) de um tabuleiro
de negras noites e de brancos dias.

Deus move o jogador, e este, a peça.
Que deus detrás de Deus o ardil começa
de pó e tempo e sonho e agonias?”

(Jorge Luis Borges, Xadrez)
No fim da partida, enquanto apertam as mãos, os jogadores ainda discutem algumas variantes que não aconteceram sobre o tabuleiro, prometem um novo confronto em breve e terminam por se despedir. O dono das peças cuidadosamente as coloca na caixa, após a obrigatória contagem. Havia sido uma partida longa, as peças tinham feito inúmeros movimentos e manobras, o descanso era mais que merecido.
– Achava que o xeque-mate não ia chegar nunca. O meu jogador poderia ter vencido cinco jogadas antes, mas não viu. Depois da segunda hora de partida ele não estava enxergando mais nada!
– Ganha e ainda reclama… Pensa que é fácil permanecer de pé, parado, sabendo que o fim é inevitável? Ah, não é! Eu não via a hora de acabar logo aquele sofrimento e voltar aqui para relaxar.
– Sei como é, semana passada aconteceu comigo. Não pense que não vi que você estava segurando o riso, porque meu jogador deixou a oitava fila descoberta.
– Por favor, abram espaço para o artilheiro da noite.
– Ah, eu sabia, lá vem você se gabar do xeque-mate. Tudo bem, aproveite seu momento, sua vitória, afinal é tão difícil ver um jogador te usar para arrematar uma partida!
– Pode até ser raro, mas é lindo! Quem mais pode dar o mate afogado, quem!? O cavaleiro, claro!


– Lá vem você de novo com essa história de cavaleiro, eu só vejo um cavalo.
– Não tenho culpa se as pessoas têm preguiça de esculpir a peça inteira, fazem a montaria mas esquecem que sobre o garanhão está um Sir!
Os companheiros de lida começaram a rir, no meio da aparente bagunça da caixa, não havia ali um exército fortemente hierarquizado, tampouco bandos opostos, mas amigos de longa data que comentavam suas batalhas com entusiasmo e bom humor.
– Não reclama de barriga cheia, ô pangaré, pior sou eu, um arqueiro nato, ter que usar essa roupa de sacerdote. Bom mesmo era nos tempos dos elefantes, quando eu ficava sobre eles mandando flechas para todo lado.
– Flechas? São muito fraquinhas, só arranham. Os jogadores preferem minhas catapultas, lançadas do alto, com longo alcance nas quatro direções.
Não se pode criticá-los, são combatentes antigos, cheios de intimidade. Que graça teria se não pudessem sequer brincar uns com os outros, ainda que por um momento parecesse rixa de crianças. Sabiam que um não existiria sem o outro, se qualquer um deles se perdesse, nunca mais poderiam batalhar juntos.
A elegante senhora logo tomou a palavra para acalmar os rapazes que ainda discutiam qual munição era mais eficiente.
– Vocês são tão bobos, não veem que eu, que lanço flechas e catapulto bombas não posso abrir mão de nenhuma delas? O importante é cada um fazer sua parte no momento certo, nem uma jogada antes, nem uma jogada depois.
A multidão de soldados logo aplaudiu aquela que para eles era um ídolo, por seu enorme poder e velocidade. Durante as partidas, alguns chegavam a poder jogar como ela, ou ainda como outros companheiros, a depender da opção do jogador. Um deles estava um pouco contrariado.
– Hoje meu jogador me promoveu a cavaleiro, ainda não entendi, poderia ter ficado com duas senhoras, mas não quis.
– Calma amiguinho, disse um dos cavaleiros, veja que vantagem que vocês têm! Ainda não percebeu? Todos nós somos condenados a fazer sempre as mesmas coisas nas partidas, secretamente todos invejamos vocês, que podem assumir diferentes papeis, e a cada embate sentem o gostinho de ter outros poderes e viver outras emoções.
– Isso é verdade, a gente precisa se esforçar muito, mas quando conseguimos chegar ao final do tabuleiro, o direito à promoção compensa os riscos e a longa caminhada.
Um arqueiro estava pensativo depois de ouvir a singular situação do soldado, e perguntou com uma ponta de mágoa:
– Não sei porque quase nenhum de vocês é promovido a arqueiro. Seria tão fantástico ver dez de nós lutando juntos!
– Desculpe, não nos cabe responder a essa questão, mas aos jogadores!
Os demais riram. Ninguém fazia ideia se a reclamação do arqueiro era justa, mas a resposta do soldado foi engraçada de qualquer jeito.
Chegou o sono que levou cada uma das peças dentro da caixa a seu próprio tabuleiro onírico. Alguns sonhavam com os antepassados, elefantes, barcos, carruagens, vizires. Outros sonhavam com batalhas recentes. Uma delas sonhou ser um jogador, mas foi um sonho inquieto, pois por mais que procurasse, jamais encontrava uma peça que faltava para completar o tabuleiro e iniciar a partida…
Uma grande claridade encerrou o sonho.
Antes que notassem, já estavam novamente perfiladas para batalha. Em cada lado do tabuleiro, os jogadores estavam em grave concentração. A peça que há pouco sonhava ser um jogador olhou longamente para eles e compreendeu: assim como elas, os jogadores eram indispensáveis às partidas, apesar de não compartilharem da mesma caixa, eles não existiam senão pelo jogo; de certa forma, eram peças também.
Só lhe restava uma dúvida: “O que faziam depois que a partida termina?”
(*) O autor publicou uma primeira versão deste texto no Blog Reino de Caíssa.
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